Se tem um ditado popular muito verdadeiro, é aquele que diz que "você é o que você come". Se você comeu um pouquinho a mais no churrasco desse domingo e acordou sentindo que tem algo vivo e se mexendo no seu estômago, você concorda comigo. Um estômago embrulhado tem o poder de deixar nossa cara fechada, nossa paciência curta e nossa motivação zerada.
Mas o que isso tem a ver com ansiedade?
A comparação é essa: se o que você come define o estado do seu corpo, o que você pensa define o estado da sua mente. Se aquele último pedaço de picanha (avermelhada, macia e salgadinha...) foi suficiente pra deixar seu corpo debilitado, pensamentos muito "amargos" ou "azedos" podem deixar sua mente debilitada e cheia de ansiedade.
Hoje, quero compartilhar com você 4 pensamentos que já passaram pela cabeça de todo ansioso, mas que só servem pra aumentar a sua ansiedade.
E como a gente sabe que tentar "parar de pensar" em alguma coisa não funciona (tente não pensar em um urso branco agora), vamos escrever os argumentos contra cada uma das frases, pra você poder se defender delas quando elas te incomodarem.
1. "Eu não consigo ser diferente"
Muita gente que se considera ansiosa não descobriu isso recentemente. É possível que, desde criança, você tenha observado os sinais de que sua ansiedade é um pouco mais forte do que a ansiedade dos outros.
Esse foi sempre meu caso, na infância. Se, pros outros, conversar com uma pessoa nova era como descobrir um baú do tesouro, pra mim era como montar um quebra-cabeça que foi feito pra crianças superdotadas: continuar tentando só me fazia parecer mais incapaz.
Como que dá pra mudar algo que vem com a gente desde sempre? Eu sempre tive olhos castanhos, sempre me chamei Henrique e sempre vou ser ansioso. Certo?
Errado. A ansiedade é diferente da cor dos olhos, da sua altura e do seu nome por um motivo: você pode aprender a ter menos ansiedade. Muitas pessoas lidam com situações de estresse de um jeito ansioso simplesmente porque elas não sabem que existe outra maneira. Se você é como a maioria de nós, ninguém nunca parou você na rua, percebeu que você dormiu muito mal na noite passada e disse “ei, você já tentou fazer um relaxamento progressivo?”.
Muita gente que usa o desacelera.com pra vencer ataques de pânico nos conta que não fazia ideia que esse poder estava dentro delas, embalado pra presente e pronto pra ser usado. Assim, tome cuidado quando você se pegar dizendo “eu não consigo mudar”. Em vez de se ajoelhar e aceitar esse pensamento amargo, faça uma lista de situações de ansiedade do seu dia-a-dia e procure técnicas para testar.
2. "Não ficou bom o suficiente"
Pra muitas pessoas com ansiedade, o perfeccionismo é um grande problema.
Se você já passou horas tentando achar a frase perfeita pra terminar um parágrafo, você sabe como é. Seus amigos podem até ter falado “tá ótimo assim, deixa isso pra lá”, mas você sente que enquanto tudo não estiver perfeito, aquilo vai ficar te incomodando, como uma coceira chata.
Muitas vezes, o que acontece no final é bem frustrante: você fica tanto tempo escolhendo as cores que, na hora de entregar a pintura, você mal fez o rascunho. Por sua vez, isso te deixa decepcionado, sua autoestima baixa e você fica ainda mais convencido de que nunca vai ficar bom. É um ciclo vicioso.
Combater esse pensamento vai exigir sua cabeça e seu coração. Se você está deixando de cumprir prazos por causa do seu perfeccionismo, use seu raciocínio lógico pra descobrir qual é a essência daquela tarefa. Comece por ali e só depois vá pros detalhes.
Se você é daqueles que entrega tudo no prazo, mas nunca fica satisfeito com o resultado, você precisa desenvolver autocompaixão - a capacidade de ser gentil consigo mesmo. Quando esse pensamento bater na sua porta, diga a si mesmo: “o ser humano não é perfeito, nem nada que ele faz. Existem imperfeições em tudo e isso faz parte da vida.”
3. “Eu consigo dar conta de tudo”
Essa podia ser uma daquelas frases motivacionais que pedem pra você repetir em voz alta numa palestra, mas não é. Na verdade, se encher de projetos, tarefas e compromissos pode estar na raiz da ansiedade que você sente.
Muita gente acaba se entupindo de coisas pra resolver, mas sem a intenção. Pode ser porque você não quis magoar o amigo que te pediu um favor, ou porque a ideia de fazer oficina de dança no mesmo dia da reunião do grupo de estudos pareceu uma boa ideia na hora… Não importa.
O que importa é que não ter tempo na agenda nem pra respirar vai, com certeza, aumentar sua ansiedade.
Pra esse problema, a solução é de partir o coração. Se você está participando de muitos projetos (ONG, grupo de pesquisa, aulas, cursos online, natação), a melhor coisa a se fazer é abandonar algum deles. É duro, é sofrido, mas pense nisso como uma troca: você abre mão de algumas horas da sua semana e, em retorno, vive uma vida menos estressante.
Se você não consegue largar seus compromissos por nada no mundo, pense em jeitos de diminuir o tempo que você entrega pra cada um. Pode parecer injusto, mas a sua saúde emocional vale mais, pode ter certeza.
4. "É minha culpa se eu sou ansioso(a)"
A sensação de culpa é o feijão com arroz dos ansiosos. Ele se sente culpado porque foi mal na prova, culpado porque não estudou tanto quanto poderia e, por cima de tudo, culpado por se sentir culpado. É tanta culpa que dá pra encher um tribunal e ainda sobra umas duas salinhas.
Sendo assim, é natural que a maioria dos ansiosos vá se sentir culpada pelo fato de ser ansiosa. Depois de uma apresentação que fez suas bochechas ficarem vermelhas na frente da turma, por exemplo, você faz uma lista das mil coisas que você poderia ter feito diferente e se culpa: “sua idiota, por que você é tão ansiosa?”.
Ás vezes essa é uma ideia difícil de digerir, mas leia com atenção: sua ansiedade não está só em você. Ao longo do Bye Bye Ansiedade, nós repetimos essa frase muitas vezes, pra que ela fique pregada - como um quadro bonito - na sua mente.
O nível de ansiedade que você vive no seu dia-a-dia é o resultado de mais fatores do que cabem nos seus dedos: sua genética, seus amigos, seu sono, hábitos de exercício, remédios, alimentação, seu repertório comportamental… e a lista poderia continuar mais um bocado, mas eu tentei ler tudo de uma vez e acabei perdendo o fôlego.
De todos esses fatores, muitos deles você não pode controlar. Sua genética veio do seu pai e sua mãe, por exemplo. Sua alimentação tem influências culturais, seus amigos são geralmente quem mora perto de você, assim como os ambientes que você habita. Qual que é a sua influência dentro disso? 10%? 50%? 25%?
No fundo, o número exato não importa, apenas saber que não é 100% - e que também não é 0%. Em vez de ficar remoendo o passado e se culpando por coisas que já aconteceram, troque culpa por responsabilidade. Procure técnicas que ajudem você a vencer a ansiedade e pratique elas, dia após dia.
CONCLUSÃO
Como em um rodízio de pizzas ou carnes (desculpa se esse post te deixou com fome), você tem sempre duas opções: aceitar um pensamento amargo que vai deixar você enjoado... ou recusá-lo de forma educada, com um “não, obrigado”.
Muita gente passa a vida inteira sem saber que esse “não, obrigada” existe. Pra elas, quando um pensamento chega, você tem que aceitar o gosto ruim que ele tem e engoli-lo.
Hoje, você descobriu que não precisa ser assim: usando os argumentos desse texto, você pode impedir que um pensamento indigesto estrague seu dia e cultivar uma mente muito mais limpa, tranquila e com o cheirinho do seu prato favorito.
Brigado por ler até aqui e Bon Appetit!
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AutorA Eurekka ajuda pessoas e empresas a se desenvolverem através da reengenharia comportamental. Arquivos
Maio 2017
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